HISTÓRIA
HISTÓRIA DO ORFEÃO DE LEIRIA | CONSERVATÓRIO DE ARTES, ASSOCIAÇÃO
HISTÓRIA DO ORFEÃO DE LEIRIA | CONSERVATÓRIO DE ARTES, ASSOCIAÇÃO
A Tradição Centenária
Muitos foram os grupos corais existentes desde 1886, vários denominados “Orfeão”, como era comum na época. Acabavam uns, nasciam outros e herdavam muitas vezes do anterior boa parte dos cantores, o maestro e muitas vezes as próprias partituras.
Em 1946, um grupo de leirienses, onde pontificavam Américo Silva, Eduardo Gomes, Joaquim da Silva Barros, Joaquim Inácio Zapata de Vasconcelos, Eduardo Alves Barbosa, Narciso Casimiro Costa, Rui Mendes Pinheiro, Luis Fernandes, Eduardo Brito, entre outros, lançaram uma nova formação denominada “Orfeão de Leiria” que aprovou os estatutos em Assembleia Geral Constituinte, em 15 de julho daquele ano, tendo sido ratificados pelo Governador Civil, em 16 de novembro seguinte. Desta vez, o Orfeão vinha para ficar, estando em 2014 a comemorar o seu 68º aniversário.
Primeiro sob a direção de Rui Barral, depois de José Pais de Almeida e Silva, Duarte Gravato, Frei Norberto Gomes, Francisco Bernardino dos Santos Carvalho, Júlio Fernandes, Joel Canhão, Guy Stoffel Fernandes, Agostinho Rodrigues, Rui de Matos, Jorge Matta, Paulo Lourenço, Mário Nascimento, Augusto Mesquita e Pedro Miguel tornou-se o embaixador cultural da cidade e da região de Leiria no mundo, como conjunto coral e como instituição referencial de cultura. Instituição a que legou o seu nome e que hoje se designa como Orfeão de Leiria|Conservatório de Artes (OL|CA), tal a sua abrangência.
Um Caminho Difícil
Dentro dos conceitos, então, vigentes, em 1946, o Orfeão de Leiria nasceu na tradição dos coros de vozes masculinas, tendo atingido nos anos cinquenta uma tal plenitude artística que o individualizou no contexto nacional e teve repercussões internacionais, nomeadamente através da BBC de Londres.
No Teatro D. Maria Pia eram feitas gravações com transmissão directa para a então Emissora Nacional. O programa teve caráter regular mensal entre 1949 e 1957, tal a expectativa suscitada no país.
Muitos são os portugueses melómanos em qualquer parte que, ao referir-se-lhes o Orfeão de Leiria, recordam a Canção do Porvir, os lindos versos de Horácio Eliseu: “(…) Leiria, teu nome doce e singelo, é belo, lembra os murmúrios do Lis (…)”, a música pungente de Ernesto Henriques e a voz límpida de Joaquim Assunção, coro em fundo, que constitui ainda hoje o hino da instituição.
Com altos e baixos o grupo coral foi vencendo as muitas dificuldades inerentes a uma iniciativa voluntarista na província: sede, financiamentos, motivação, assiduidade, qualidade, renovação, etc.
É assim que em 1986, como resposta à necessidade de introduzir vozes novas que se fixassem na casa, foi criado um Coro Misto (que incluía elementos comuns ao coro masculino), um vector de mudança que veio a permitir não apenas a esperada renovação (pessoas, repertório e expectativas), mas ainda o manter da tradição institucional e a continuidade de um coro de vozes masculinas refrescado pelo elo intra-institucional.
A profissionalização por inteiro da direcção coral em 1988 possibilitou não apenas prosseguir a renovação mas alcançar também outros objectivos: a generalização da técnica vocal; os conhecimentos em música; um repertório sistematicamente mais erudito; a qualidade interpretativa. O que possibilitou chegar-se a 2011 como um dos melhores agrupamentos corais nacionais e um invejável curriculum europeu e mundial.
Apresenta-se hoje com conjuntos diferentes – misto, vozes masculinas, vozes femininas, em conjunto ou separadamente –, e acompanhamento orquestral ou instrumental ou a capela.
A Projeção Europeia
Depois de algumas atuações em Espanha nos anos 60 e 80, o Coro do Orfeão de Leiria iniciou nos anos 90 um novo ciclo de digressões pelo estrangeiro. Em 1991 participou no festival Europalia na Bélgica. Nos últimos anos atuou por várias vezes em Espanha, França, Alemanha, Dinamarca e Holanda, Suíça e Itália (participando no festival Mare Music, na ilha de Ischia e em muitos outros concertos neste país), e na República Checa (Festival Internacional de Música de Câmara e Festival Internacional de Coros com Música de Natal, aqui com um invejável 3º lugar), para além da Áustria, Luxemburgo, Hungria, Eslovénia, Eslováquia e Polónia. Em Outubro do ano 2000 participou em festivais em vários Estados do Brasil.
Com atuações por todo o país esteve por isso também nos Açores, nas ilhas Graciosa, Terceira e de S. Miguel.
A participação regular no Festival Música em Leiria desde 1996 como os muitos concertos para coro e orquestra, são momentos em que o Coro do Orfeão de Leiria atingiu momentos altíssimos na sua prática artística, eminentemente virada para a comunidade.
Como linha mestra de atuação, quando é cada vez mais dispendioso deslocar um grupo coral dentro e fora do país, não há financiamentos públicos específicos para corais e o associativismo é fraco, a instituição apostou no intercâmbio com outras organizações artísticas nacionais e estrangeiras, amadoras ou profissionais, orquestras, corais, grupos de câmara ou organizações de festivais, privilegiando-se a qualidade.
Este projecto, que quando ganhou consistência passou a designar-se por Europa das Famílias, permitiu ao Coro da instituição ser recebido em qualquer parte por organizações e comunidades, sobretudo autóctones, e receber em Leiria largas dezenas de grupos estrangeiros (com mais de três dezenas de protocolos de geminação e intercâmbio além fronteiras), privilegiando-se o acolhimento em casas de família, dando à região de Leiria uma animação cultural singular e uma projeção cultural europeia.
Uma Praxis na Diversidade
Desde os primeiros instantes que outras práticas artísticas se desenvolveram no Orfeão de Leiria, nomeadamente as «variedades» e a promoção de concertos, de que se recordam as muitas «performances» de Maria Carlota Tinoco.
Em determinado momento houve necessidade de alargar ainda mais as actividades internas. É assim que em 1973 surge com mais força o Teatro, cujo grupo, o GTOL, levou à cena peças como Diário de Anne Frank, O Dispensário, O Pinto Calçudo, A Viagem de Senhor Perichon, Frei Bartolomeu dos Mártires (obra que participou no I Encontro do Arquivo Histórico Dominicano, realizado no Mosteiro da Batalha em 1981, a convite desta entidade), da autoria do seu encenador, Joaquim Manuel de Oliveira, o saudoso «Quiné», e posteriormente readaptada, entre outras.
Em 1989 o Grupo de Teatro partiu para uma nova estética e estreou peças como Mário, Eu próprio, O Outro, de José Régio ou A Farsa de Mestre Pathelin, com a direção artística do professor Luís Mourão.
Para além do Teatro, também os cantares tradicionais, a pesquisa etnográfica e tantas outras práticas se incluem no quotidiano da Instituição OL CA, designadamente através do grupo Tradições, que soma centenas de atuações e duas digressões pelo Brasil.
O fenómeno do Bailado
Em 1977 é criada a Escola de Bailado, a qual atraiu centenas de jovens e crianças que pretendiam aprender a arte da dança. Inicialmente dirigida por Mercedes Stoffel e depois também por Vítor Linhares, atingindo um nível muito elevado
A Escola de Dança do Orfeão de Leiria (EDOL) foi dirigida durante 26 anos pela professora Ana Manzoni. Muitos dos seus alunos têm sido sujeitos a exames na Royal Academy of Dance com franco sucesso. Alguns deles também integraram as companhias nacionais de dança. Atualmente a Direção Pedagógica da EDOL é liderada pela professora Ana do Vale.
O ano de 1997 marca o início do ensino oficial da Dança, por despacho do Ministério da Educação, uma praxis então com poucos parceiros em Portugal.
A EDOL teve um Núcleo Coreográfico profissional, o TILT, dirigido por Catarina Moreira, seguramente a coreógrafa portuguesa mundialmente mais premiada, assente num protocolo com a Câmara Municipal de Leiria e o Instituto Politécnico de Leiria.
O Festival Dança em Leiria teve por patronos e organizadores, a Câmara Municipal de Leiria e o OLCA. O evento produziu espetáculos e cursos de dança e promoveu a divulgação e o gosto por esta expressão artística nas suas mais diversas linguagens.
É o Conservatório da Região
Graças ao impulso de um grande dirigente do Orfeão de Leiria prematuramente desaparecido, José Ferreira Neto, é criada em 1982 uma Escola de Música (EMOL).
A EMOL, Escola de Música do OLCA, inicialmente com a direção pedagógica de Ana Barbosa, hoje com autonomia pedagógica, foi desde Julho de 1990 até recentemente, a única instituição no distrito com ensino oficializado, por despacho do Ministério da Educação.
É o Conservatório de Leiria, hoje uma das maiores escolas de música do país, para lá das duas dezenas de disciplinas com paralelismo pedagógico e uma imensidão de projetos inovadores. É seu diretor o professor Mário Teixeira.
Pulula no seio da EMOL uma plêiade de agrupamentos artísticos com metamorfoses ditadas pelo tempo.
O Coro de Câmara de Leiria tem uma evolução que acompanha o crescimento da EMOL.
Faz concertos com regularidade com um repertório muito exigente, com direção de Joaquim Branco.
A Orquestra de Sopros de Leiria, criada na EMOL em 1999, hoje dirigida pelo maestro Luís Casalinho, participou já em vários festivais de música.
A Orquestra Sinfónica de Leiria, com direção artística de Rodrigo Queirós, que é também seu maestro principal, nasce já em 2008 da herança das classes de cordas e de sopros da casa, preenchendo uma importante lacuna no repertório sinfónico e coral sinfónico regional.
A actual Big Band reforça o ensino da disciplina jazz, iniciado por protocolo com o Hot Club de Portugal e com o contributo de Carlos Barreto.
Um conceito escolar singular
As Master classes de instrumento, os cursos de Páscoa como os vocacionados para jovens músicos filarmónicos, ou os de Verão, como o de guitarra e os de flauta, são importantes veículos de divulgação da Escola, que atraem alunos de todo o país.
O Estágio Internacional de Orquestra, conta já com 11 edições, com o patrocínio da Área Metropolitana de Leiria, atrai à região centenas de candidatos, entre eles largas dezenas de estrangeiros. É seu diretor artístico o maestro e insigne professor Jean Sebastien Béreau.
No domínio da «performance» da guitarra evoluiu-se para o Festival Internacional de Guitarra de Leiria, dirigido pelos professores Ilda Coelho, José Mesquita Lopes e Sónia Leitão. Inclui as Master Classes de guitarra, conta já com 8 edições, que incluem habitualmente nomes como Tomás Camacho, Carlo Marcotulli ou Margarida Escarpa, o Encontro Nacional dos Ensembles de Guitarra e o Concurso Internacional deste instrumento.
A EMOL tem ainda protocolos de colaboração mútua com várias escolas do ensino regular, tendo em vista o ensino articulado e profissional da música.
O Concurso Jovens Talentos da EMOL, com jurados externos como Eurico Carrapatoso e outros, tem sido em cada uma das últimas 14 edições uma perspectiva muito frutuosa. O que não é estranho a que, atualmente, alunos da EMOL prossigam os estudos em universidades francesas, espanholas, inglesas e norte-americanas.
Um olhar moderno sobre o mundo
Café das Quintas foi uma tertúlia musical em ambiente de café concerto com 15 anos de atividade ininterrupta, dirigida pelo Professor Doutor Carlos André. Proporcionou momentos de fruição musical articulados com reflexões sobre temas diversos, onde participaram de par com os melhores músicos da instituição ou convidados, as mais destacadas figuras nacionais de todas as áreas do saber.
O Conservatório Sénior abriu em 2008. Iniciativa singular no mundo, de parceria com um leque amplo de instituições de caráter social da região e do país, susceptível de contribuir para o retardar do envelhecimento cerebral e para a melhoria do bem-estar e qualidade de vida nos anos dourados, tem no seu coro, dirigido por Mário Nascimento, uma boa presença nas televisões.
Dos melhores e mais antigos festivais de música do país
Mas o OL CA não se esgota nestas atividades internas e externas. Durante o ano são muitas as realizações artísticas por si promovidas ou em associação com outras instituições.
O Festival Música em Leiria, porventura a maior e mais antiga realização cultural regular do país, que se estende por toda a Região de Turismo Leiria/Fátima, com direção artística Maestro António vassalo Lourenço
Uma Referência Cultural
O OLCA liderou desde o primeiro instante um conjunto de autarquias, instituições culturais e empresariais do distrito de Leiria, como associados da Orquestra Regional do Centro, um projeto aprovado pela Secretaria de Estado da Cultura, integrando a direção da Associação Filarmonia das Beiras, proprietária da Orquestra Filarmonia das Beiras, ora com direção artística do professor António Vassalo Lourenço.
O Edifício Sede do OLCA, que é sede das escolas de música e dança, um projeto grandioso co-financiado pelo Governo através do PIDDAC do Ministério do Plano, do PRODEP do Ministério da Educação, pela Câmara de Leiria e pelo Ministério da Cultura, inaugurado em 18 de Abril de 1997 por S. Exa. o Senhor Presidente da República, fica a ser a maior infra-estrutura para o Ensino Artístico na zona centro de Portugal.
A obra do Orfeão de Leiria Conservatório de Artes (OLCA) em 68 anos de labor cultural sem interrupções só tem sido possível graças ao esforço e ao empenho de muitos amigos, ao apoio de muitas entidades oficiais e fundações e, sobretudo, do sector empresarial da região e do país, os por aqui chamados «acionistas da cultura».
Em 20 de Junho de 1996 o Plenário da Assembleia da República aprovou por unanimidade um voto de louvor a esta Obra cultural. Entre outras condecorações, o OLCA foi distinguido com o Grau de Oficial da Ordem de Benemerência (Ordem de Mérito), é a única entidade reconhecida por três vezes pelos governos com a Medalha de Mérito Cultural e foi agraciado pelo Senhor Presidente da República com o título de Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique.