A tradição coral em Leiria é centenária, remontando ao dia do casamento do Rei D. Carlos, segundo notícias da época.
No rescaldo da II Guerra Mundial, frustrada já a esperança gerada na euforia do renovar Portugal politicamente, na onda da Europa além Pirenéus em reconstrução, o desemprego deixava inativos os jovens buliçosos, frementes de vontade em distinguirem as suas terras, em darem o seu contributo social, em construírem o sublime valorizando a sua autoestima.
É assim que um grupo de jovens reunidos no Jardim Luís de Camões em Leiria resolve dar corpo a um novo coral.
Muitos foram os grupos corais existentes desde 1886, e, pelo menos, entre 1936 e 1946. Acabavam uns e nasciam outros. Herdavam muitas vezes do anterior boa parte dos cantores, algumas vezes o maestro e muitas vezes as próprias partituras.
O Orfeão de Leiria erguido em Maio de 1946 e agora a comemorar o seu 75º aniversário, primeiro sob a direção de Rui Barral, depois de José Pais de Almeida e Silva, Duarte Gravato, Frei Norberto Gomes, Francisco Bernardino dos Santos Carvalho, Júlio Fernandes, Joel Canhão, Guy Stoffel Fernandes, Agostinho Rodrigues, Rui de Matos, Jorge Matta, Paulo Lourenço, Mário Nascimento, Augusto Mesquita, Pedro Miguel, João Batista Branco, Joaquim Branco, Nuno Almeida e novamente Mário Nascimento, tornou-se o embaixador cultural da cidade e da região de Leiria no mundo, como conjunto coral e como instituição referencial de cultura. Instituição a que legou o seu nome e que hoje se designa como Orfeão de Leiria Conservatório de Artes (OL|CA), tal a sua abrangência e ao facto de incorporar, desde a década de 90 do séc. XX, ensino com paralelismo pedagógico oficial em Música e em Dança.
Fundado em pleno Estado Novo, contudo, o sentido democrático sempre foi um dos princípios basilares da Instituição. Tanto conviveram em tertúlias, no coro e nos próprios órgãos sociais, pessoas do mundo do trabalho operário como pessoas oriundas do trabalho administrativo e quadros superiores, como ainda de profissões liberais. Nos órgãos sociais, tanto se encontravam pessoas afetas ao regime, como pessoas claramente democratas. Também, desde a década de 50, num “mundo de homens”, as senhoras passaram a estar presentes com responsabilidades setoriais e, situação inusitada até ao fim do séc. XX na generalidade das organizações, foi a presidência do mandato de 1965 ter sido atribuído a uma senhora, Maria José Bastos Byrne Monteiro. Outras, passaram pela direção sendo a “decana honorária”, a D. Antonieta Brito.
Para além disto, na década de 60, o Orfeão mostrou o pioneirismo com a sua vertente inclusiva, apesar dos conceitos terminológicos serem diferentes, ao protocolar com a Prisão-Escola de Leiria, tanto espetáculos naquela casa de reclusão, como admitir reclusos no Coro do Orfeão, acompanhando, mesmo, pequenas digressões no país.