ars ad hoc
ars ad hoc
Data
14 de abril de 2023 às 20:30:00
Classificação Etária
M/6
Local
Teatro José Lúcio da Silva, Leiria
Entrada
1º Balcão e Plateia: 5€ | 2º Balcão: 2,5€
| Sócios do Orfeão de Leiria: 50% desconto* | Alunos do Orfeão de Leiria: gratuito*
* bilhetes pessoais e intransmissíveis
Sinopse
Carlos Lopes (1995) | TO_mbeau [2023] (primeira parte) ca 8’
Criada por encomenda da Arte no Tempo para o ars ad hoc, com financiamento da Direcção Geral das Artes, a obra TO_mbeau tem a sua estreia absoluta no Festival Internacional de Música da Primavera de Viseu, em Abril de 2023.
«TO_mbeau é uma amálgama de dois conceitos, cada qual contribuindo para o imaginário sonoro da obra:
“Tombeau” (derivado do francês – túmulo, sepultura) foi uma forma de composição musical amplamente cultivada nos séculos XVII e XVIII, comemorando a morte de um indivíduo notável. Não prestando homenagem a um defunto em particular, fui mais influenciado pela conotação fúnebre do género e pela ideia de um som que parte das profundezas, como que sepultado.
TO, de Optimização Topológica (“Topology Optimization”), é um processo matemático que visa optimizar a configuração de um material tendo em conta as forças a que será sujeito, excluindo tudo o que é desnecessário e reforçando as áreas sujeitas a tensão. Aqui, imaginei este tipo de processos aplicados ao material musical da obra e tentei aliar o meu interesse pela manipulação de áudio digital à escrita instrumental. TO_mbeau não recorre ao uso de eletrónica, mas as ideias musicais partem de uma reconstrução acústica dos fenómenos digitais da filtragem, corte e mutilação do som.» (C. L.)
João Moreira (2004) | Atropos [2022] ca 14’
Estreada pelo ars ad hoc, no Auditório de Serralves, em Fevereiro de 2023, Atropos é a primeira obra que João Moreira escreveu para trio de cordas, na sequência da selecção do compositor no âmbito de uma chamada de propostas lançada pela Arte no Tempo.
Trata-se de «uma obra que pretende explorar os limites da percepção através da amplificação de estruturas sonoras complexas e variação na projecção de luz, resultando numa sobrecarga sonora e visual. A peça está dividida em três secções distintas, cada uma constituída por materiais musicais contrastantes. A obra começa com um cânone em três partes, em que o registo agudo dos instrumentos é explorado através de variações na posição, pressão e movimento dos arcos.
A transição entre a primeira e a terceira partes é feita através de um solo de violoncelo, em que as diferentes capacidades e qualidades tímbricas do instrumento são exploradas através da execução de técnicas não convencionais, focando a atenção na relação entre o corpo do instrumentista e o do instrumento. A última secção, a mais complexa em termos sonoros, é composta por elementos de elevada saturação e distorção, onde a individualidade de cada instrumento é destruída, resultando numa única massa sonora com o objectivo de criar uma ligeira sensação de desconforto.» (J. M.)
Por razões meramente práticas, a vertente de iluminação (opcional) não será praticada neste concerto.
Franz Schubert (1797 - 1828) | Trio de cordas nº 2 em Si bemol maior D 581 [1817] ca 22’
I. Allegro moderato
II. Andante
III. Menuetto. Allegretto.
IV. Rondo. Allegretto.
A segunda incursão de Franz Schubert na composição para trio de cordas levou-o a reincidir na tonalidade de si bemol maior. Ao contrário do primeiro, de que nos chega um único andamento completo, do segundo, composto em Setembro de 1817, chegam até nós quatro andamentos em duas versões, de que aqui apresentamos a segunda, um pouco mais elaborada e com indicações mais detalhadas de articulação e dinâmica, realizada a partir de um conjunto de partes individuais preparadas e revistas pelo próprio compositor. Trata-se de um trio clássico, composto num ano em que Schubert transita para um idioma mais romântico, tendo sido escrito sobretudo para “consumo doméstico” – embora fosse o melhor violinista, Franz Schubert tocava viola em quartetos e trios com o pai e os irmãos mais velhos.
O primeiro andamento, assertivo e vivo, apresenta-se em forma sonata, cujo desenvolvimento inclui modulações a tonalidades menores.
Em forma tripartida, o Andante encontra-se na tonalidade da dominante (fá maior), com um tema não muito distante do do andamento precedente.
Remetendo-nos para um universo mais clássico, o terceiro andamento regressa (em que a viola assume, talvez, maior destaque) à tonalidade principal. O trio denota traços do folclore austríaco, que o último andamento há-de recuperar.
Igor Stravinsky (tr. R. Carvalho) | Trois Mouvements de Pétrouchka [1921]
Para sempre associada à obra que Arnold Schönberg compôs em 1912, a formação do “quinteto pierrot”, para a qual tantos compositores da segunda metade do século XX e do século XXI têm escrito, carece de repertório mais antigo. Desde a sua segunda temporada, o ars ad hoc tem investido no repertório para esta versátil formação, interpretando obras de compositores contemporâneos, mas também algumas transcrições. Sendo o flautista do ars ad hoc também um exímio arranjador, foi-lhe encomendada uma transcrição de uma obra maior do repertório ocidental, do russo Igor Stravinsky (1882 – 1971).
Servindo-se tanto da versão para orquestra como da versão para piano de Trois Mouvements de Pétrouchka que o próprio Stravinsky elaborara a partir da música que compôs para o bailado estreado por Fokine, em 1911, Ricardo Carvalho tomou por base a partitura para piano, tentando preservar na sua transcrição as cores originais e o carácter da versão orquestral. Mesmo conhecendo a obra desde criança, a tarefa de elaborar a transcrição que agora se escuta terá sido menos óbvia do que a escolha da formação instrumental, que desde logo lhe pareceu a mais completa a nível tímbrico, permitindo-lhe fazer a adaptação desta obra orquestral para um grupo de música de câmara.
Programa
• Carlos Lopes (1995) | TO_mbeau [2023] *
para flauta, clarinete, violino, violoncelo e piano
• João Moreira (2004) | Atropos [2022]
para trio de cordas
• Franz Schubert (1797 - 1828) | Trio de cordas nº 2 em Si bemol maior D 581 [1817]
• Igor Stravinsky (tr. R. Carvalho) | Trois Mouvements de Pétrouchka** [1921]
para flauta, clarinete, violino, violoncelo e piano
* estreia absoluta
** estreia absoluta do arranjo para quinteto
Ficha Artística e Técnica
Ricardo Carvalho > flauta
Horácio Ferreira > clarinete
Diogo Coelho > violino
Francisco Lourenço > viola
Gonçalo Lélis > violoncelo
João Casimiro Almeida > piano
Diana Ferreira > programação
Biografia
ars ad hoc - foi criado no contexto da Arte no Tempo como resposta à vontade de fazer música de câmara com os mais elevados padrões de exigência, combinando obras do grande repertório com a mais recente criação musical.
O primeiro concerto decorreu no Outono de 2018, numa temporada apoiada pela Direcção Geral das Artes e o Município de Aveiro, em que pôs em confronto música de grandes clássicos com o trabalho de um dos mais interessantes criadores do nosso tempo, o compositor suíço-austríaco Beat Furrer (Schaffhausen, 1954), que, em março de 2019, marcou presença na segunda edição da bienal Reencontros de Música Contemporânea, trabalhando com o ars ad hoc a estreia nacional do seu quinteto intorno al bianco [2016]. Na atribulada temporada de 2019/20, o ars ad hoc prestou particular atenção à música de Ludwig van Beethoven (1770-1827) e de Luís Antunes Pena (1973), tendo ainda revisitado obras de Beat Furrer e interpretado obras tão extraordinárias como Talea [1982], de Gerard Grisey (1946-1998). Além da sua “temporada regular”, o ars ad hoc marcou ainda presença em alguns festivais, estreando obras encomendadas a compositores portugueses e estrangeiros.
Ainda condicionada pela pandemia de COVID-19, a temporada de 2020/21 trouxe algumas estreias nacionais e absolutas, tendo o ano de 2021 ficado positivamente marcado pelo início da colaboração do agrupamento com a Fundação de Serralves, onde passa a desenvolver as suas residências artísticas, encontrando o ambiente adequado ao desenvolvimento de um trabalho sério de preparação e de apresentação do que tem vindo a desenvolver especificamente no campo da música dos nossos dias – trabalho esse que, de forma mais isolada, apenas vinha a apresentar nas bienais que a Arte no Tempo realiza no Teatro Aveirense. Outras colaborações, trazem a público um ars ad hoc com um campo de acção mais abrangente e versátil, combinando a mais recente criação musical com obras incontornáveis do grande repertório clássico e romântico.
Em 2021/22, o ars ad hoc dedicou especial atenção à música de Simon Steen-Andersen (1976), não deixando de fazer estreias absolutas de compositores portugueses e estreias nacionais de vcompositores como Beat Furrer, Joanna Bailie e Clara Iannotta. Com especial enfoque na música de Helmut Lachnemann (1935), a temporada de 2022/23 conta com mais estreias de compositores portugueses e com a passagem do agrupamento por diferentes festivais.
A possibilidade de desenvolver um trabalho regular na Fundação de Serralves com programas próprios e outros paralelos às exposições, em colaboração com o Serviço de Artes Performativas, foi um importante contributo para redesenhar a estratégia com que pretendemos abraçar o futuro, continuando a levar a grande música a diferentes palcos e a públicos diversos, dando a conhecer o que de melhor se cria nos nossos dias e impulsionando a criação de nova música, em especial junto de compositores mais novos.
Apesar de ter já realizado perto de uma dezena de estreias absolutas e mais de uma dúzia de estreias nacionais, o ars ad hoc pretende afirmar-se pela qualidade do trabalho que desenvolve, privilegiando a profundidade das suas interpretações em detrimento do número de obras ou compositores tocados, procurando, sempre que possível, desenvolver uma relação de proximidade com os compositores na exploração das obras. Com programação de Diana Ferreira, o ars ad hoc é formado por músicos que, depois de se terem notabilizado em Portugal, complementaram os seus estudos no estrangeiro, como o flautista Ricardo Carvalho (Aveiro, 1999), o clarinetista Horácio Ferreira (Pinheiro de Ázere, 1988), 4 de 19 o pianista João Casimiro de Almeida (Cabeceiras de Basto, 1994), os violinistas Álvaro Pereira (Guimarães, Diogo Coelho (Porto, 1988), o violetista Ricardo Gaspar (Lisboa, 1991) e o violoncelista Gonçalo Lélis (Aveiro, 1995)